Risco de colapso energético no DF


Uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) alertou que a falta de investimentos na Companhia Energética de Brasília (CEB) nos últimos anos pode causar o colapso do sistema de fornecimento de energia elétrica. O relatório aponta que o sucateamento da rede de distribuição e a volumosa dívida da empresa podem acarretar problemas como racionamento e até desabastecimento do serviço, “trazendo graves consequências para a economia, a segurança e o bem-estar da população do Distrito Federal”, conclui o documento. (veja fac-símile). A diretoria da CEB discorda e afirma que os problemas ocasionados pela falta de manutenção e expansão do sistema geram, apenas, interrupções localizadas e temporárias de energia, não havendo, assim, relação com racionamento ou desabastecimento.

A projeção do tribunal é que, se o cenário continuar como está, de aumento da dívida e baixa capacidade de geração de caixa, a empresa pode quebrar daqui a nove anos, em 2024, uma vez que, mesmo vendendo todos os ativos da companhia, ela ainda ficaria devendo seus credores. Segundo o cenário previsto pelo TCDF, em 2024, o capital próprio da CEB será de R$ 30 milhões negativos, enquanto a dívida ultrapassará os R$ 2,95 bilhões. Em uma hipótese mais otimista, com aumento do caixa e redução da dívida, o capital próprio da CEB será de R$ 1,7 bilhão e o de terceiros, R$ 1,16 bilhão.

Segundo dados da CEB, a empresa apresenta deficit de R$ 1,78 bilhão de ativos, sendo R$ 1,5 bilhão de obrigações e de recursos de terceiros, isto é, dinheiro comprometido com empréstimos. Desses, R$ 850 milhões são débitos que vencem a curto prazo. “O relatório é importante para a gente conhecer a história e não repetir os mesmos equívocos”, afirma Francisco Aurélio Sampaio Santiago, diretor-presidente da CEB Holding.

O documento do TCDF mostrou que, de 2010 a 2012, a CEB investiu R$ 520,2 milhões, recursos que não acompanharam o aumento de demanda. Em seis anos, a quantidade de unidades consumidoras cresceu 16,2% e em 2013 totalizava mais de 920 mil. Com isso, algumas operações que a empresa previa que seriam suficientes não supriram a necessidade elétrica local. Por exemplo, a companhia construiu uma subestação em Samambaia prevendo o abastecimento da cidade e de parte de Taguatinga. Porém, quando a subestação entrou em operação, dava para fornecer energia somente para Samambaia por conta do crescimento da cidade.



O TCDF trouxe também dados da qualidade do serviço oferecido aos consumidores. A CEB não cumpriu os indicadores mínimos exigidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em 2013, por exemplo, a empresa ultrapassou em quase seis horas o estabelecido pela agência. Os brasilienses ficaram 17,73 horas sem energia, enquanto o limite previsto era de 11,76 horas. O mesmo ocorreu com a frequência. A Aneel estabeleceu o limite de 11,25 interrupções para 2013, o registrado foi 15,72 (veja gráficos). 

Por causa do baixo desempenho da CEB, estando entre as 16 piores operadoras de energia elétrica do país, a Aneel exigiu da distribuidora um plano de resultados, que deve ser apresentado no próximo 12 de abril. Nesse documento, deve constar um diagnóstico preciso da realidade da empresa, ações para sanar os problemas, resultados esperados e tempo de execução. “O plano para a Aneel é uma oportunidade para a companhia. Vamos ter um acompanhamento trimestral, com prazos e resultados. Além disso, vamos descobrir os responsáveis pelo estado que a empresa se encontra, com CPF e tudo, para podermos cobrar dessas pessoas”, afirma Santiago. O diretor-presidente ressalta ainda que vai focar no cliente e nos resultados para melhorar a distribuidora.

Prejuízo
Enquanto a CEB passa por um delicado momento, os consumidores sentem no dia a dia as dificuldades e os prejuízos causados pela má prestação do serviço. Segundo a CEB, em 2014, foram 351.900 reclamações, dessas, 343 mil eram relativas à interrupção do serviço. A cabeleireira Aigleny Correia de Oliveira, 40 anos, tem um salão de beleza e, quando acaba a energia no estabelecimento, não conta com outra opção a não ser dispensar as clientes e contabilizar o prejuízo. “A gente precisa de energia para tudo: lavar o cabelo da cliente com água quente, usar o secador e a chapinha, ligar a autoclave que faz a esterilização dos instrumentos da manicure. Até mesmo a agenda está no computador e os pagamentos são na máquina de cartão”, afirma.

Leonardo Boccucci, 37, tem uma lanchonete. Ele conta que no ano passado escreveu um desabafo em uma rede social contando as dificuldades com o serviço de energia. Segundo o empresário, o horário de funcionamento da lanchonete é das 10h às 22h, mas, quando falta eletricidade, precisa fechar as portas às 19h. “Essa situação é muito ruim para o comerciante. Imagine, eu fecho as portas na hora em que o meu movimento é mais forte.” Por conta das oscilações no serviço, Boccucci perdeu quatro computadores e trocou três placas das geladeiras.

A tatuadora Aninha Silveira, 30, não consegue trabalhar sem energia, já que precisa da luz e de que a máquina para tatuar esteja ligada. “Uma vez, até tentei colocar um piercing com a luz do celular da cliente. Mas não dá para ficar sem energia.”

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