A nova geração de síndicos

As tecnologias e a complexidade dos novos condomínios fizeram com que a figura folclórica dos senhores e senhoras que intermediavam os conflitos entre os condôminos cedam espaço a jovens com formação superior, cheios de teorias e ideias inovadoras

Alunos da primeira turma (2010 A) do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Condomínios da UDFA figura do síndico remete a um senhor mais velho, conservador, que faz da atividade a grande ocupação dos seus dias de aposentadoria. Com a complexidade dos novos condomínios, que têm crescido expressivamente, pessoas mais jovens têm se candidatado para o cargo. No lugar dos folclóricos senhores e senhoras, jovens com formação superior, cheios de teorias, ideias e choques de gestão buscam representar os moradores.

Vice-Presidente do Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (Sindicondomínio) há 12 anos, Maria Delzuite Ribeiro Nolasco de Assis acredita que, hoje, o síndico tem uma atribuição muito mais profissional do que tinha no passado e que os jovens podem estar devidamente preparados para o cargo. “As funções dos síndicos estão aumentando cada vez mais e isso exige pessoas mais jovens para administrar os prédios. Outra razão é que os condomínios se tornaram maiores e mais complexos. Alguns possuem prédios residenciais e comerciais com áreas de lazer e serviços. Além do mais, administrar brigas entre condôminos ficou no passado. O síndico agora tem de voltar as energias para outros tipos de problemas”.

Para exercer o cargo de síndico, são exigidas algumas habilidades e conhecimentos, como conhecer a Legislação Federal, a Convenção do Condomínio e o seu Regulamento Interno. Pensando nisso, o Sindicondomínio, em parceria com o Centro Universitário UDF, abriu, no primeiro semestre de 2010, o Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Condomínios.

Condomínios residenciais e comerciais modernos e complexos, como o Brasil 21, exigem bons profissionais

O objetivo do curso é formar, em dois anos, profissionais aptos para planejar, orientar a execução de tarefas, administrar recursos materiais e financeiros, gerenciar pessoas, diagnosticar problemas e propor soluções. “Para exercer a profissão, é necessário conhecimento em administração, contabilidade, direito, engenharia e psicologia”, afirma a coordenadora do curso, Landejaine Maccori. Ela destaca também que para assumir o comando de um condomínio é preciso saber lidar com pessoas e ter um perfil empreendedor. “Viver em um condomínio significa estar em um ambiente comum, onde todos os condôminos têm direitos iguais nas áreas pertencentes a todos, então, é essencial que o gestor seja paciente e saiba se comunicar com os moradores para lidar com esse paradoxo”.

Especialização é primordial


Landejane diz que Brasília está se tornando a cidade dos condomínios e a procura bons profissionais cresceLandejaine comenta que Brasília está virando uma cidade condomínio e que por isso, mesmo sendo um curso novo, a expectativa em atrair pessoas jovens é grande.

“Hoje, o síndico pode ganhar de R$ 2.5 a R$ 3 mil por condomínio. Nos mais complexos, ele pode receber até R$ 7 mil. Há uma grande perspectiva de sucesso”, declara. As turmas, abertas nos primeiro e segundo semestres de 2010, atraíram cerca de 80 alunos.

Raphael Rios, 47, é síndico há 7 anos de um condomínio de 5 blocos com 354 apartamentos, o Residencial Valmir Campelo, e foi um dos primeiros a se inscrever quando o curso abriu. “O meu interesse era muito grande. É aceitável a figura de um síndico amador, além do mais, acho essencial a preparação de qualquer profissional.” Ressaltou, ainda, a importância de valorizar o sonho dos moradores. “Muitas pessoas passam grande parte da vida planejando para ter o seu imóvel, por isso, o síndico tem a obrigação de administrar muito bem o condomínio”, conclui. 

Tecnologia agiliza comunicação interna
Hoje, os condomínios optam por dinamismo e pelo uso de tecnologias para evitar problemas. Alguns síndicos criam e-mail para se comunicar com os moradores. Thiago e Paulo são exemplos de gestores que utilizam o correio eletrônico para facilitar e acelerar algumas necessidades cotidianas. “Hoje dá para agilizar muita coisa por e-mail.

Os moradores estão sempre enviando mensagens e respondendo a elas. É bastante eficaz. ”, declara o subsíndico. A Granlar, administradora do Arquipélago de Abrolhos, tem, ainda, um site que divulga alguns avisos e disponibiliza documentos oficiais para os condôminos.

Mesmo que o número de pessoas mais jovens esteja crescendo exponencialmente, ainda existem muitas pessoas mais velhas qualificadas e profissionais que assumem o comando em seus residenciais. Thiago defende que o tempo vivido não influencia. “Competência independe de idade, para mim, o que conta mais é a vontade e a disposição para fazer diferente”. Paulo, que gosta de propor mudanças, concorda e afirma: “Não acho que uma pessoa mais jovem pode administrar melhor, avalio que podemos administrar tão bem quanto alguém mais velho”.

Conhecimento tecnico e paciência
O experiente Raphael aprova a ideia de que os mais jovens também estão preparados para assumir o comando. “Os mais novos têm acesso à informação muito mais fácil e lida melhor com tecnologias, o que é importantíssimo. Mas tem que gostar de gente. Também é preciso aprender lidar com todo tipo de pessoa e com diversos tipos de situação para resolver os problemas da melhor maneira possível. A dedicação e o estudo são mais que necessários para realizar um trabalho eficaz, eficiente e efetivo.”, conclui.

As funções continuam, o que muda é como fazê-las
Paulo Solino fez várias mudanças simples no prédio, mas que fizeram a diferença para todos

As responsabilidades do síndico são enormes. Ele precisa ser organizado, coerente, capaz de trabalhar sob pressão, além de saber aceitar críticas e sugestões. Paulo Solino, 37, subsíndico por um ano e síndico há 11 meses no Residencial Turmalina, na região de Águas Claras, não hesitou em se eleger ao cargo e assumir a liderança. “No início, quando me candidatei, fiquei um pouco apreensivo. Tive medo de que os moradores não me ouvissem, exatamente por eu ser mais novo. Por isso, estudei antes de falar. Estudei o papel do subsíndico, do síndico, as leis, o regimento interno, tudo para que eu pudesse argumentar”, confessou.

Hoje, com a experiência adquirida, Paulo defende que é imprescindível valorizar a equipe que trabalha no condomínio. Instalou uma televisão colorida para o porteiro, separou um quarto de descanso para os funcionários e os trata com respeito e igualdade. “Quando atendo primeiro a necessidade de quem trabalha aqui, recebo menos reclamações. Com um funcionário feliz, temos um morador feliz”, enfatiza. O síndico também se preocupa com as áreas de serviço comuns aos condôminos. “Fiz várias mudanças simples no nosso prédio, mas que fazem toda a diferença. Lembrei de instalar ventiladores na lavanderia, fiz algumas reformas no hall dos elevadores para deixar o local mais bonito, tudo sem pedir taxa extra.”, contou Paulo.

Thiago Lucas Silva, 28, servidor público, é subsíndico há um ano no Residencial Arquipélago de Abrolhos, em Águas Claras, e assume a maior parte das responsabilidades. “Como o síndico não mora aqui, eu atuo no lugar dele. Ele cuida da parte burocrática e financeira, enquanto eu fico responsável pelo bom relacionamento entre os moradores e por manter a organização, além de atender as demandas do condomínio”, diz. Com autonomia para decisões importantes, como a compra de material, Thiago procura sempre tomar a decisão certa. “Na hora da compra de equipamentos para a lavandeira, para a academia, para a manutenção das piscinas, ou para o nosso salão de festas, não pergunto aos moradores o que eles preferem, analiso o que é primordial.” explica o subsíndico.

Responsável por administrar 3 blocos com 320 apartamentos, Thiago procura ser justo ao realizar enquetes em algumas questões. “Há algum tempo, tínhamos dois espaços vazios e cada morador queria ocupá-los de forma diferente. Então, achei que fazer uma votação era o mais correto, pois, eu não podia decidir sozinho o que seria melhor. Com o maior número de votos, foi decidido que um dos espaços seria um home cinema e o outro uma lanchonete.”

Moradora do Arquipelágo de Abrolhos há quase quatro anos, Ana Cláudia Risso Lopes, 29, avalia que, por morar em um condomínio de quitinetes onde a maioria dos moradores são jovens, prefere ter um síndico com o mesmo perfil. “Ele tem a cabeça mais aberta, é mais flexível nas decisões e está sempre propondo novas ideias”, declara. Ana Cláudia afirma, ainda, que o diálogo mudou. “Com a troca da gestão, a comunicação ficou bem melhor e o retorno das nossas reivindicações mais rápido”, completa.

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